Senado estuda projeto para amparar autistas desassistidos

ASSISTÊNCIA SOCIAL
07 de maio de 2018

Poucos autistas brasileiros têm acesso ao tratamento integral. Primeiro, porque são raros os centros dedicados ao autismo. Depois, porque, quando existem, são privados e caros. Segundo o governo, a grande maioria dos brasileiros (77%) é dependente da rede pública de saúde. O restante das pessoas (23%) tem plano de saúde, mas isso não significa que os seus convênios cubram ou que elas consigam pagar do próprio bolso o tratamento particular.

“O resultado é que uma parte considerável dos autistas, sem acesso às terapias adequadas, não se desenvolve, não ganha autonomia, não se integra à sociedade” diz Fernando Cotta, presidente da ONG Movimento Orgulho Autista Brasil (Moab).

Devido a isso, para amparar os autistas desassistidos, o Senado começou a estudar um projeto de lei que obriga cada estado a construir pelo menos um centro de assistência integral (PLS 169/2018). Trata-se, originalmente, de uma sugestão apresentada ao Senado por uma mulher do Ceará por meio do Portal e-Cidadania. No dia 4, a Comissão de Direitos Humanos (CDH) decidiu transformá-la em projeto de lei.

A relatora da sugestão na CDH foi a senadora Regina Sousa (PT-PI). Ela prevê que tentarão derrubar o projeto sob o argumento de que uma lei federal não pode criar despesas para os estados. “Os centros de referência em autismo não exigirão gastos extras”, assegura. Bastará que os estados façam o remanejamento de servidores e a adaptação de prédios públicos já existentes.

A criação de políticas públicas para esse grupo esbarra na falta de estatísticas confiáveis. O governo não sabe quantos autistas existem no Brasil. No dia 2, numa audiência pública na CDH, pais e especialistas defenderam que o IBGE inclua o autismo no questionário dos Censos — a Câmara dos Deputados estuda um projeto de lei que contém essa previsão (PL 6.575/2016).

— Até hoje temos apenas uma estimativa. Não sabemos quantos somos no Brasil. Sem saber quem somos e onde estamos, não conseguimos fazer uma política pública efetiva — afirmou na audiência a psicopedagoga Viviani Amanajás, mãe de um autista.

Estudos feitos no exterior indicam uma prevalência de 62 autistas para cada grupo de 10 mil pessoas. Considerando esse dado, o Brasil teria 1,3 milhão de pessoas com autismo — o mesmo que a população de Campinas (SP). Há estimativas que chegam a sugerir que o país tem 2 milhões de autistas.

Para tornar essa população visível, o governo sancionou no dia 13 uma lei aprovada pelo Congresso que transforma 2 de abril no Dia Nacional de Conscientização sobre o Autismo (Lei 13.652).

A expectativa é que a sociedade passe a compreender mais um transtorno envolto em preconceito e desconhecimento. Pelo pouco que a ciência sabe, o autismo resulta de falhas no desenvolvimento do cérebro do bebê e se caracteriza por alterações de comportamento e dificuldades de comunicação e interação social. A intensidade dos sinais varia bastante, indo do autista que leva uma vida muito próxima do normal ao autista que não pode viver sem a vigilância constante da família.

Como nos primeiros anos de vida o cérebro tem uma plasticidade extraordinária, é imprescindível que o transtorno seja detectado o mais cedo possível e a estimulação comece logo na primeira infância. Com estímulos adequados, os sinais do autismo são atenuados e podem até ser revertidos. Sem os estímulos, os sinais pioram. Não há cura.

Fonte: Senado Federal.