Parceria entre empresas e Universidade usa tecnologia como aliada na inclusão

PROJETO
03 de janeiro de 2017

Como forma de garantir o acesso e participação de pessoas com deficiências motoras, visuais, físicas e auditivas no mercado de trabalho, empresas apostam em tecnologias inclusivas. A Dell, por exemplo, em parceria com a Universidade Estadual do Ceará (Uece), criou o Laboratório de Educação a Distância para Pessoas com Deficiência (Le@d), que funciona em Fortaleza.

O resultado do projeto, que nasceu aos poucos em 2011, foi a criação de uma plataforma online (projetolead.Com.Br) e um aplicativo para sistema Android, com diversos cursos à distância, como, por exemplo, o de introdução à lógica de programação, e inúmeras ferramentas agregadas, que facilitam a aprendizagem do aluno e tornam o ensino acessível.

"A Dell tinha dificuldade em encontrar pessoas com deficiências qualificadas. O que a gente fez foi entender o porque dessa falta de qualificação. A partir de uma pesquisa sobre o assunto, decidimos criar uma ferramenta para maximizar o aprendizado dessas pessoas", explicou Eder Soares, gerente de projetos de inovação da Dell Brasil.

Atualmente a plataforma trabalha com pessoas com deficiências físicas leves, auditivas e com baixa visão. "Estamos evoluindo o trabalho e em 2017 todos os cursos estarão disponível cegos", destacou ainda Lidiane Castro, gerente de projetos da plataforma. A equipe, no total, é composta por 100 pessoas. "Nosso time é multidisciplinar e possui muitos alunos da Uece, que pesquisam e estudam novas tecnologias para melhorar o aprendizado de pessoas com deficiência", acrescenta ela.

Eder também adiantou que a Dell está planejando uma ação de aplicação dos cursos em São Paulo e no Rio Grande do Sul em 2017. "A pesquisa, no entanto, continuará no Ceará".

"Gosto de dizer que temos aplicação mediada por tecnologia. Muitas vezes os professores dos nossos cursos estão mais próximos do aluno do que no método tradicional. No nosso ambiente, eles têm acesso ao fórum, bate-papo, e-mail e podem tirar dúvidas a qualquer momento", complementa ele.

O aplicativo veio para potencializar os estudos e ainda permite que os alunos recebam notificações offline. "Em uma grande cidade em que os usuários se locomovem de ônibus, é possível baixar as aulas e assisti-las offline no trajeto para o trabalho. O usuário pode definir de que forma o aplicativo será utilizado. Por exemplo, o menu do Facebook fica do lado direito. No entanto, e se o usuário não tiver a mão direita? No aplicativo do Le@d, ele pode pegar o menu e 'jogar' para a esquerda. Um dos pontos fortes do projeto é a acessibilidade, mas vale destacar que a plataforma não é exclusiva para deficientes", conclui Eder.

Biblioteca acessível

O cearense Heyde Leão, sócio da empresa AED Tecnologia, e o professor Anaxágoras Girão, coordenador do Laboratório de Pesquisa Aplicada e Automação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), tiveram as primeiras ideias para desenvolver uma biblioteca acessível, voltada para o público com deficiência visual, ainda em 2010.

O projeto, que já saiu do papel e tem mudado a vida de algumas pessoas, tem como propósito agregar conteúdo acessível aos usuários cegos tanto pelo áudio quanto pelo braile. "Como a grande maioria dos meios acessíveis são voltados para o computador, caros e inacessíveis à maioria, isso faz com que o acesso a mídias diversas, como livros, jornais, entre outras, seja precarizado", justificou Heyde.

A biblioteca é uma plataforma digital com acervo inicial de 150 livros. E a cada ano, o empreendedor garante, será incrementada para o cliente. Ela foi projetada a partir de um mouse braile intitulado Portactil. "Esse mouse é um hardware. Iniciamos, e bancamos com recursos próprios, inclusive, grande parte do desenvolvimento dele". Agora o projeto recebe apoio da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), o que tornou possível o desenvolvimento da biblioteca acessível.

Heyde ainda explica que estão trabalhando para que projeto seja "freemium". "Isso significa gratuito para acesso, mas que tenha preço acessível frente ao conteúdo em braile tradicional. Trabalhamos para manter o contato com o braile, pois o distanciamento e a "desbrailização" no processo educacional impactam em diversos aspectos à vida da pessoa com deficiência visual".

Distanciamento do braile

Ele justifica: "Para que vocês tenham uma pequena ideia do impacto do distanciamento do braile, testemunhei alunos do ensino médio escrevendo textos no computador usando as palavras 'kaza' e 'jemada'. Esses meninos apenas usavam áudio-livros e estavam distantes do braile. O resultado foi notas baixas nos testes de redação. E outro ponto, quando vão fazer o Enem, a redação deles é corrigida da mesma forma, sem nenhum tipo de concessão. Os meninos têm apenas uma hora a mais para fazer a transcrição para o braile. Sem uma redação boa, fica complicado o acesso a uma boa faculdade, que impacta na formação profissional e na empregabilidade desses cidadãos".

Futuro

O empreendedor ressalta que a base da biblioteca está concluída, mas os desenvolvedores estão sempre trabalhando em melhorias. Hoje a plataforma é usada por alunos em escolas públicas municipais, já que a Prefeitura de Fortaleza adquiriu algumas em 2012.

Heyde destaca que até crianças com o espectro do autismo usaram o projeto. Para o futuro, ele reforça a vontade de fazer parcerias. "É na Academia que se aponta para o futuro e é somando conhecimento e visão de mercado que se desenvolve o Estado. Temos analisado vários campos de aplicação".

Fonte e foto: Diário do Nordeste

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